segunda-feira, 13 de julho de 2015

"Se cuida", "Fica bem". E a arte de não se envolver!




A nossa obstinada busca pela "paz interior" nos garantirá a refinada capacidade de nos blindarmos dos perigos do mundo e do maior perigo de todos: sermos incluidos na dor do outro. Sairmos da confortável situação de espectador para a arriscada tarefa de personagem, é algo que nos assusta demais. Esse esforço de preservação pode nos render a ilusão de estarmos protegidos da tragédia alheia, mas nos cobrará um alto valor: sermos ilhas humanas, cercadas de indiferença por todos os lados.
O fato de não sermos nós os causadores do sofrimento, não nos absolve. Observar o sofrimento alheio e nem ao menos nos dispor à encontrar uma singela forma de minimizá-lo, nos iguala a condição de quem o causou. Ou não?!
Tomamos tanto cuidado para não nos envolvermos em problemas alheios, que ficamos assim: linhas que se tocam, mas não se cruzam, e nos tornamos seres isolados, encapsulados, encaixotados.
Imagine sermos capazes de enxergar um possível olhar preocupado da pessoa que nos serve o café na padaria, ou perceber a postura acanhada daquela outra pessoa que divide o espaço de trabalho conosco. Imagine sermos ousados  a ponto de nos importarmos com isso, de sairmos da nossa zona de conforto, para tocar a zona de desconforto do outro.
As relações humanas nesse mundo moderno são pautadas no individualismo e na perda do conceito da coletividade.


Texto: Ana Macarini

A superficialidade nas relações ainda vai nos levar a um lugar tão seguro, mas tão seguro, que nada poderá nos atingir, ou alcançar, nem a nossa própria voz.